Reflexões e lições de 25 vindimas

Reflexões e lições de 25 vindimas

A OIV define a viticultura sustentável como uma “estratégia global à escala dos sistemas de produção e processamento da uva, associando ao mesmo tempo a sustentabilidade económica das estruturas e territórios, produzindo produtos de qualidade, considerando os requisitos de precisão da viticultura sustentável, os riscos para o ambiente, a segurança dos produtos e a saúde do consumidor, e valorizando os aspetos patrimoniais, históricos, culturais, ecológicos e paisagísticos.”

Nos últimos 25 anos de existência da AZ3 Oeno, temos assistido, na indústria do vinho, a mudanças significativas nas vindimas, devido às variações climáticas e à evolução das práticas agrícolas.

Com a transição de uma parte importante da cultura de sequeiro para regadio, os equilíbrios dos mostos de uva sofreram transformações assinaláveis. Os níveis de pH do mosto aumentaram, a acidez málica diminuiu e a maturação das uvas evoluiu consideravelmente, passando de vindimas com 12,5 graus de álcool para vindimas de 15-16, e até 17 graus de álcool, atualmente.

Apesar destas mudanças, muitos enólogos continuam a utilizar os mesmos critérios de determinação da vindima. Porém, à luz da realidade atual, estes métodos já não são suficientes, o que levou à necessidade de fazer ajustes e “remendos” nos mostos e nos vinhos. Por exemplo, foram implementadas técnicas como resinas de troca iónica, particularmente de troca catiónica, para ajuste do pH, tratamentos de correção da acidez, etc., e estes métodos não resolvem, de forma transversal, a qualidade da fruta, a longevidade ou a complexidade dos vinhos.

Os ajustes da acidez málica e a utilização de manoproteínas, taninos para melhorar a textura e o sabor dos vinhos, são soluções temporárias que não resolvem a raiz do problema. É fundamental que sejam adotadas mudanças reais nos processos de vindima, para manter a qualidade e autenticidade dos vinhos. Ainda que sair da zona de conforto possa ser desafiante, a aventura de o fazer de forma consciente e decisiva permitir-nos-á uma adaptação às mudanças sem recorrer a soluções temporárias. A realidade exige uma adaptação genuína e sustentável.

Face à situação preocupante da produção excedentária, uma das abordagens que se propõe é o desenraizamento das vinhas como medida de redução da produção. Todavia, esta estratégia coloca um dilema importante, uma vez que as vinhas menos produtivas são geralmente as que oferecem uvas com maior qualidade. Por outro lado, devido ao baixo preço da uva, muitos agricultores optam por arrancar estas vinhas pouco produtivas e substituí-las por novas plantações em vinhas de regadio, que produzem maiores quantidades, mas de qualidade inferior.

Perante esta situação, é de capital importância procurar alternativas que permitam manter um equilíbrio entre a quantidade e a qualidade da produção de vinho.

Algumas possíveis soluções poderão incluir:

  1. Promover práticas agrícolas sustentáveis, que melhorem a produtividade sem comprometer a qualidade das uvas.
  2. Incentivar a diversificação de produtos vitivinícolas, para uma melhor adaptação às exigências do mercado.
  3. Promover a colaboração entre os atores que participam no setor, tais como agricultores, adegas, agências governamentais e distribuidores, para encontrar soluções conjuntas de forma eficaz. Esta colaboração permite-nos aproveitar diferentes perspetivas e experiências.

É de vital importância considerar o impacto, a médio e a longo prazos, de qualquer medida que seja tomada, garantindo a proteção da qualidade do produto, dos interesses dos agricultores, do setor vitivinícola no seu todo, e sobretudo valorizando os aspetos patrimoniais, históricos, culturais, ecológicos e paisagísticos”.

Convém lembrar que menos é mais. Não se trata apenas de aumentar a produção, mas de compreender a viticultura de forma transversal.

É necessário encontrar um equilíbrio entre a quantidade e a qualidade, valorizando a sustentabilidade, a tradição e o respeito pelo meio ambiente. Preservar vinhas de qualidade, ainda que menos produtivas, pode ser a chave para oferecer vinhos de maior valor e satisfazer um consumidor cada vez mais exigente e informado. Menos “remendos” e uma abordagem mais transversal podem ser a resposta para superar os atuais desafios do setor vitivinícola.

Espero que estas reflexões tenham proporcionado uma perspetiva holística e útil, para enfrentar este complexo desafio que todos temos pela frente. Juntos podemos encontrar uma solução que beneficie todos.

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